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Guarda Compartilhada Internacional: é possível quando um dos pais mora no exterior?


Por Maísa Lemos | Advogada especialista em Direito de Família | 17 de abril de 2025

Categoria: Direito de Família | Guarda de Filhos






Sumário


  • Introdução

  • O que é guarda compartilhada e seus princípios

  • Desafios da guarda compartilhada internacional

  • Aspectos jurídicos a considerar

  • Alternativas à guarda compartilhada tradicional

  • Como elaborar um plano de parentalidade internacional

  • Conclusão


Introdução



Imagine a seguinte situação: após a separação, você recebe uma proposta de trabalho irrecusável no exterior. Ou talvez seu ex-cônjuge comunique que está se mudando para outro país. Em ambos os casos, surge uma dúvida angustiante: é possível manter a guarda compartilhada quando um dos pais mora em outro país?


Esta é uma realidade cada vez mais comum em nosso mundo globalizado. Famílias transnacionais enfrentam desafios únicos quando se trata de equilibrar as responsabilidades parentais através de fronteiras internacionais.


A distância não precisa significar o fim da coparentalidade efetiva.


A boa notícia é que, embora complexa, a guarda compartilhada internacional não é impossível. Porém, exige adaptações, planejamento cuidadoso e, acima de tudo, foco no melhor interesse da criança.


Neste artigo, vamos explorar como funciona a guarda compartilhada quando há distância geográfica significativa, quais os desafios envolvidos e como construir um arranjo que funcione para todos os envolvidos.




O que é guarda compartilhada e seus princípios


A guarda compartilhada é o modelo preferencial no Brasil desde a Lei nº 13.058/2014, justamente por reconhecer a importância da participação ativa de ambos os pais na vida dos filhos. Neste modelo, pai e mãe compartilham decisões importantes sobre educação, saúde e bem-estar dos filhos, independentemente de com quem a criança resida fisicamente.


A essência da guarda compartilhada está na corresponsabilidade, não na divisão igual de tempo.


Os princípios fundamentais da guarda compartilhada são:

Corresponsabilidade parental: ambos os pais mantêm responsabilidades e direitos iguais



  • Convivência equilibrada: garantia de tempo de qualidade com ambos os genitores

  • Cooperação entre os pais: comunicação eficiente e tomada de decisões conjunta

  • Prioridade ao interesse da criança: todas as decisões devem considerar primordialmente o bem-estar do filho


Quando pensamos nesses princípios, percebemos que a distância geográfica impõe desafios significativos, especialmente quanto à convivência equilibrada. No entanto, os demais princípios podem ser preservados mesmo com um oceano separando os pais.


Saiba mais: Guarda Compartilhada: Benefícios e Desafios Legais






Desafios da guarda compartilhada internacional


Maria e João compartilhavam a guarda do filho Pedro, de 8 anos, após o divórcio. Quando Maria recebeu uma proposta para trabalhar em Portugal, o ex-casal precisou repensar completamente os arranjos parentais. A distância de mais de 8.000 km tornava impossível manter a divisão de tempo que tinham estabelecido inicialmente.


Este exemplo ilustra o principal desafio da guarda compartilhada internacional: a impossibilidade de convivência física frequente com ambos os pais. Outros desafios incluem:


  • Diferenças de fuso horário: dificultando a comunicação regular

  • Custos de viagens internacionais: tornando as visitas presenciais mais onerosas

  • Diferenças culturais e educacionais: podendo gerar conflitos sobre a criação dos filhos

  • Complexidades jurídicas: envolvendo legislações de diferentes países

  • Barreiras linguísticas: quando a criança precisa se adaptar a outro idioma


A tecnologia tem sido uma grande aliada para superar a distância física.


Apesar desses obstáculos, muitas famílias conseguem implementar versões adaptadas da guarda compartilhada que funcionam bem mesmo à distância. O segredo está em focar nos princípios fundamentais, não necessariamente na divisão igualitária de tempo físico.



Aspectos jurídicos a considerar


Do ponto de vista legal, a guarda compartilhada internacional envolve considerações importantes:

Convenção de Haia sobre Sequestro Internacional de Crianças

Este tratado, do qual o Brasil é signatário, protege crianças contra remoções ou retenções ilícitas em países estrangeiros. É fundamental que qualquer mudança internacional seja feita com o consentimento de ambos os pais ou autorização judicial, para evitar acusações de sequestro internacional.


Atenção: Sair do país com seu filho sem autorização do outro genitor pode configurar crime!


Autorização para viagens internacionais


Quando um dos pais mora no exterior, é recomendável estabelecer previamente as regras para viagens internacionais da criança, incluindo:


  • Frequência das viagens

  • Quem arcará com os custos

  • Documentação necessária

  • Procedimentos em caso de emergência


Homologação de decisões judiciais


É importante verificar se a decisão judicial brasileira sobre guarda será reconhecida no país onde um dos pais residirá. Em alguns casos, pode ser necessário um processo de homologação da sentença no país estrangeiro.



Alternativas à guarda compartilhada tradicional


Quando a distância torna inviável o modelo tradicional de guarda compartilhada, existem alternativas que preservam o vínculo da criança com ambos os pais:

Guarda alternada por períodos mais longos

Em vez de alternar semanas, como é comum na guarda compartilhada tradicional, os pais podem estabelecer períodos mais longos de convivência:


  • Férias escolares com o genitor que mora distante

  • Semestres ou anos letivos alternados em cada país

  • Feriados prolongados com o genitor não-residente


Ana, de 12 anos, mora com a mãe no Brasil durante o ano letivo e passa as férias de verão e de inverno com o pai na Alemanha. Este arranjo permite que ela mantenha vínculos significativos com ambos os pais, mesmo com a distância.


Guarda unilateral com amplo direito de convivência virtual


Neste modelo, a criança reside principalmente com um dos genitores, mas mantém contato frequente com o outro através de:


  • Vídeochamadas regulares

  • Mensagens diárias

  • Participação virtual em eventos importantes

  • Acompanhamento online das atividades escolares


O que importa não é o nome do modelo, mas sua eficácia para o bem-estar da criança.


Guarda compartilhada com residência fixa


A tomada de decisões continua sendo compartilhada, mas a criança tem residência fixa com um dos pais, visitando o outro em períodos predeterminados. Este modelo é juridicamente uma guarda compartilhada, mas na prática se assemelha à guarda unilateral com direito de visitas ampliado





Como elaborar um plano de parentalidade internacional


Para que a guarda compartilhada internacional funcione, é essencial elaborar um plano de parentalidade detalhado e realista. Este documento deve contemplar:


  • Definição clara de quando a criança estará com cada genitor

  • Planejamento de viagens internacionais

  • Flexibilidade para ajustes conforme necessário


Um bom plano de parentalidade prevê tanto a rotina quanto as exceções.


Comunicação


  • Frequência e horários para videochamadas

  • Plataformas a serem utilizadas

  • Protocolos para comunicação em emergências


Tomada de decisões


  • Quais decisões exigem consenso de ambos os pais

  • Processo para resolução de conflitos

  • Mediação em caso de impasses


Aspectos financeiros


  • Divisão de custos com viagens internacionais

  • Responsabilidades financeiras de cada genitor

  • Método para transferências internacionais de pensão alimentícia


Educação e saúde


  • Escolha de escolas e linha pedagógica

  • Acesso a informações médicas e escolares

  • Participação em reuniões escolares (presencial ou virtual)


Um plano bem elaborado reduz conflitos futuros e proporciona segurança para todos os envolvidos, especialmente para a criança.



Conclusão


A guarda compartilhada quando um dos pais mora no exterior é desafiadora, mas possível. O que determina seu sucesso não é a proximidade geográfica, mas a capacidade dos pais de cooperarem e manterem o foco no bem-estar dos filhos.


A tecnologia tem sido uma grande aliada, permitindo que pais distantes fisicamente permaneçam presentes na vida dos filhos. Videochamadas, mensagens instantâneas e redes sociais ajudam a encurtar distâncias e manter vínculos afetivos fortes.


Lembre-se: seu filho merece manter laços significativos com ambos os pais, independentemente da distância.


O mais importante é lembrar que cada família é única e as soluções precisam ser personalizadas. O que funciona para uma família pode não funcionar para outra. Por isso, é fundamental contar com orientação jurídica especializada para elaborar um acordo que atenda às necessidades específicas da sua situação.


Se você está enfrentando o desafio de manter a guarda compartilhada à distância, busque assessoria jurídica especializada em Direito de Família Internacional. Um advogado com experiência nessa área poderá ajudar a construir um plano de parentalidade que proteja os interesses do seu filho e preserve seus direitos parentais, mesmo através de fronteiras internacionais.


Sobre a autora: Maísa Lemos é advogada especialista em Direito de Família com 22 anos de experiência. Mãe de três filhos, apaixonada por literatura e viajante frequente, ela compreende na prática os desafios das famílias modernas e transnacionais.


Está enfrentando desafios com guarda compartilhada internacional? Entre em contato para uma consulta personalizada e descubra como podemos ajudar a construir um arranjo que funcione para sua família, mesmo à distância.



 
 
 

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